em Meio Ambiente, Políticas públicas

Foto de capa: kwest/Shutterstock.com

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Mais uma vez a história se repetirá e um tiro que saiu pela culatra fará o feitiço se virar contra o feiticeiro! A histeria global que elevou o problema das mudanças climáticas para o primeiro lugar entre os vilões da degradação do meio ambiente foi escolhida pelos ambientalistas como argumentação central de todas as suas causas preservacionistas, defendendo a proteção ambiental como única saída para evitarmos um futuro “dentro da frigideira”.

 

 

Assim, nos últimos anos, tornou-se obrigação no discurso ambiental, demonizar os “gases causadores do efeito estufa”, conhecidos como GEE.

 

Uma série de reportagens televisionada pelo Jornal da Band, entre os dias 18 e 22 de junho, apresenta argumentações contra o discurso alarmista do aquecimento global. Sem considerar as “forçantes” que levaram ao ar o outro lado dos argumentos, fiquei feliz em ver, finalmente, cientistas com outras visões terem espaço em um tema fortemente concentrado em uma única “verdade”.

Imagem reprodução Pinóquio (Disney).

Depois de assistir a esse vídeo busquei outras reportagens que mostrassem a linha de pensamento que ficou conhecida como cética, por não acreditar nas teorias das mudanças climáticas globais influenciadas por alterações antrópicas no ambiente. Porém, encontrei um vídeo que quebrou minha esperança em ver um tema tão polêmico apresentado na forma de um jornalismo imparcial.

Neste vídeo, veiculado em maio, a reportagem enfatiza uma declaração do Dr. James Lovelock, cientista famoso pelo desenvolvimento da hipótese conhecida como Teoria de Gaia. Em uma entrevista à msnbc.com, o cientista admitiu certo exagero em suas previsões, considerando-as muito alarmistas. Agora, Dr. Lovelock prepara-se para lançar mais um livro sobre como a humanidade pode agir para ajudar a regular os sistemas naturais do planeta. Um pouco de estratégia de marketing!?

A jornalista abre a reportagem dizendo que essa declaração “atinge o centro da argumentação dos ambientalistas que defendem o veto ao novo código florestal”. A reportagem foi feita antes da divulgação do veto parcial da Presidente Dilma, que vetou 12 itens e fez 32 alterações em outros trechos do código.

James Lovelock, History of Modern Biomedicine Research Group, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

Foi justamente essa frase que me deixou apreensivo e mais preocupado com a adoção do discurso aquecimentista como bandeira principal de defesa do meio ambiente. O exagero baseado nos relatórios do IPCC acabou por simplificar, esconder e deixar em segundo plano uma gama gigantesca de serviços ambientais promovidos pelas florestas, os quais são a verdadeira razão de lutarmos contra políticas ambientalmente insustentáveis. A outra versão da história sempre existiu, os cientistas contestaram os estudos do IPCC desde o começo, mas nenhum deles teve espaço para divulgação de suas ideias e ninguém quis fazer um documentário com superprodução para apresentar seus argumentos.

Acontece que agora, as pessoas que buscavam uma legislação mais frouxa, para permitir a continuidade de seus modelos de exploração da terra insustentáveis, descobriram uma poderosa arma contra a luta dos preservacionistas: a descrença. Assim, começaram a utilizar os argumentos dos cientistas céticos contra a hipótese de preservação das florestas como método de defesa contra as mudanças climáticas, tipo: Viu só, não existe isso de mudança climática, o doutor falou, então não tem porque não deixarem a gente queimar mais um pouquinho de mata pra plantar, criar gado e ganhar dinheiro.

Esse erro cometido pelos ambientalistas é mencionado no vídeo e já foi alertado no século XIX, pelo filósofo Hegel:

“Quem exagera o argumento prejudica a causa.” (Georg Wilhelm Friedrich Hegel)

Engraçado que em encontros filosófico-científicos que às vezes participo nos inúmeros botecos do Rio de Janeiro, sempre que levantava alguns argumentos sobre ceticismo científico acerca das mudanças globais, ouvia algumas pessoas falarem que se for necessário usar o discurso alarmista para conseguir que a sociedade acorde e tome medidas para preservarmos o nosso meio ambiente, seria válido. Sempre fui contra esse tipo de desinformação e ainda acredito na educação como melhor forma de criarmos uma demanda social pró-ambiente. Deu no que deu…

Parece que aos poucos as informações vão se espalhando, pois na era da internet é difícil camuflar uma mentira por muito tempo, e os tais “gases maldosos” estão saindo de cena. Espero que os ambientalistas sejam mais cautelosos e mais espertos e tentem demonstrar a verdadeira importância das nossas florestas para a sobrevivência de nossa sociedade.

Baseando-se apenas na publicação As Florestas e os Serviços Ambientais (Embrapa), podemos citar os serviços ambientais ecossistêmicos como um meio gerador do bem estar humano.

Podem ser vistos como serviços de suporte à vida na Terra o abastecimento (alimento, água, matéria orgânica, etc.), a regulação (clima, quantidade e qualidade da água, doenças) e, ainda, o aspecto cultural (estética, espiritualidade, recreação, etc.). Esses serviços causam impactos para o ser humano em sua segurança (alimentar, pessoal, contra desastres naturais), garantem material básico para uma boa existência, para saúde e até para boas relações sociais.

No casos dos recursos hídricos sua função é primordial, atuando no controle da qualidade e temperatura da água, na proteção contra enchentes, na preservação de espécies aquáticas, controle de erosão… são infinitos os efeitos benéficos.

Então por que, entre tantos benefícios que podemos obter da preservação de nossas florestas, escolhemos o mais duvidoso de todos eles, de reguladora do clima global?

“A floresta vale muito”. Foto de João Cabral no Pexels

Grande abraço…

PS: A série de reportagens pode ser vista na página eletrônica do Jornal da Band.

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Mostrando 9 comentários
  • Guilherme Lito
    Responder

    Vale sempre lembrar que nosso querido Lipovetsky tem uma resistência forte em botar boa parte da responsabilidade desse mundo de espetáculos na conta do marketing.

    Há outras razões mais profundas sociológicas e antropológicas para agirmos assim. Sim, o comercial no intervalo do Faustão ajuda muito, mas há outras coisas em jogo aí.

    Recomendadíssimo: A Felicidade Paradoxal!

    Abs,

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Fala Lito!

      Que bom contar com sua participação aqui! Agradeço a sugestão de leitura, já está na lista!

      Grande abraço,

  • Paulo Sérgio Ortiz
    Responder

    Você reforça nossa observação de que vivemos o auge da “Sociedade de Espetáculos” que resumo assim: muito marketing e pouca ciência.

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Olá Paulo, realmente a força da mídia em nossa sociedade tem o poder de direcionar boa parte da formação de opinião, mesmo que isso deixe a ciência em segundo plano. Talvez seja hora de pensarmos em como dificultar essa manipulação e, com certeza, a melhor saída é a educação.

      Um povo sem conhecimento é o jardim dos clientelistas…

      Vistei o seu site, parabéns pelo trabalho! Muito legal.

      Um abraço.

  • Paulo Sérgio Ortiz
    Responder

    Olá Oswaldo,
    Você está reforça nossa observação de que vivemos o auge da “Sociedade de Espetáculos” que resumo assim: muito marketing e pouca ciência.

  • angela
    Responder

    Osvaldo este texto está fantástico. A maturidade nos faz usar o conhecimento de forma lúcida e sem zanga com o mundo . bjs.Parabéns

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Oi Angela!! Que bom você por aqui…

      Agradeço muito seu elogio!! Concordo contigo e ainda complemento: a lucidez é um ótimo e fértil campo para a razão, onde cresce o conhecimento puro, livre de dogmas e preconceitos.

      Um grande beijo.

  • Ian vieira
    Responder

    Oswaldo, gostei de seu texto de hoje.
    Tb ja assisti materiais sobre o aquecimento global e se este era ou não causado pelo homem. O q mais me impressionava era como a ciência havia se tornado tão reflexiva à qq idea contrária sem dar ouvidos aos argumentos apresentados.
    Um abraço.

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Valeu Ian!

      Muito dessa “reflexão” aos argumentos contra às teorias do IPCC não era ciência, mas política e, principalmente, econômica. Infelizmente a grande mídia ainda é controlada por grupos econômicos que financiam sua existência.

      Um grande abraço, camarada.

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