em Meio Ambiente, Qualidade da Água, Recursos Hídricos

Apesar da brincadeira da frase popular utilizada no título deste artigo, hoje a moringa é outra, mas não é utilizada para esfriar a água e sim para tratá-la! No postSimple is beautiful – Tratando água de maneira fácil.” falamos sobre uma técnica muito simples de tratamento da água para consumo humano, o SODIS. Muito fácil de aplicação, o método consiste na exposição da água a ser tratada em garrafas PET por pelo menos 6 horas ao sol. Isso garante a eliminação de bactérias e vírus nocivos aos humanos.

Após publicação do texto, recebi um comentário de um leitor, o ecólogo especialista em ETE’s Ralph Olaf Hrnning Rosenstiel, alertando sobre a necessidade de um pré-tratamento para redução da turbidez da água, antes da exposição aos raios solares. Nesse pré-tratamento, o Ralph indicou a utilização de uma planta, mais especificamente, uma hortaliça arbórea, originária da Ásia, conhecida como Moringa (Moringa oleifera).

         

Flor e folhas da Moringa

Fiquei curioso e fui ler um pouco mais sobre as propriedades dessa planta, para utilização em processos de tratamento de água.

De cara, descobri que essa planta asiática tem muito mais a oferecer, além de sua ótima eficácia como agente coagulante e bactericida. Só no Projeto “Moringa a Semente da Vida” são pesquisados usos da planta para:

  • Alternativas de utilização da folhas como alimento de combate à desnutrição infantil
  • Remédios para os tratamentos de:
    • Malária e Icterícia a partir das folhas;
    • Infecções de Pele a partir das raízes;
    • De mulheres com sangramento pós-parto, a partir das raízes e seiva;
    • Alimentos, Proteínas, Vitaminas A e C, Cálcio e Ferro a partir de suas vagens, folhas e sementes.
    • Óleos vegetais com uso em cozimentos, fabricação de sabão, cosméticos e combustível de lamparina a partir de suas sementes.
    • Fertilizantes orgânicos a partir de suas folhas

Agora, focando mais no uso para tratamento de águas, o extrato da semente da Moringa é excelente como substituto do sulfato de alumínio, coagulante químico mais utilizado no Brasil para tratamento de água de abastecimento público.

Porém, em alguns casos, o sulfato de alumínio pode se mostrar com um custo muito grande, principalmente em locais remotos, com difícil acesso e longe das estações de tratamento de água, além de demandar maiores custos para posterior correção do pH da água. Nessas localidades, é usualmente utilizado o abastecimento por poços ou açudes, que geralmente possuem baixa qualidade da água, com altas taxas de turbidez e cor, ainda com possibilidade de contaminação por fezes de animais de sangue quente, no caso dos açudes.

          

Açudes tendem a apresentar águas com alta turbidez e com presença de contaminação por fezes de animais

Outro aspecto positivo em se substituir o sulfato de alumínio pela semente da Moringa está relacionado ao resíduo gerado. No caso do uso do sulfato, o alumínio é adsorvido no material sólido, produzindo os flocos que sedimentarão no fundo do tanque. Assim, o lodo residual desse tratamento será rico em alumínio, o que dificulta sua disposição final, uma vez que altas concentrações desse metal podem ser prejudiciais à saúde humana.

                                 

Extrato da Moringa e Sulfato de Alumínio

(Como costuma dizer um professor meu: “Desconfie dos pós brancos”)

Na pesquisa de Lo Monaco P.A.V. et al (2010), foi alcançado, com o uso de sementes de moringa, uma remoção de turbidez da água de até 98%, além de 100% de remoção de coliformes fecais na água de abastecimento.

No caso do tratamento com o método SODIS, das garrafinhas, a utilização das sementes de Moringa proporcionam uma melhor garantia no resultado final do processo, como testado na pesquisa de L.A. Amaral et al (2006). Nessa pesquisa, os autores concluem que:

“- O extrato de sementes de M. oleifera sem a exposição à radiação solar não se mostrou eficaz na redução dos números de E. coli.

– A eficácia da desinfecção da radiação solar foi menor nas amostras de água com 200-250 UNT em comparação com a água com 30-40 UNT.

– A redução máxima nos números de E. coli foi obtida, nas águas com turbidez 30-40 UNT e 200-250 UNT, com a utilização do extrato de sementes de M. oleífera e exposição por 12h ao sol, simultaneamente.”

O caso da Moringa serve para nos alertar da importância das florestas, onde estão inúmeras espécies com alto potencial de uso para melhora da qualidade de vida humana.

Grande abraço.

 

Referências:
L.A. Amaral, O.D. Rossi Junior, L.S. Soares e Barros, C.S. Lorenzon, A.P. Nunes
P.A.V. Lo Monaco, A.T. de Matos, I.C.A. Ribeiro, F. S. Nascimento, A.P. Sarmento
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Fonte da imagem de capa: https://grifedacasa.files.wordpress.com/
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