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Durante o último carnaval na cidade do Rio de Janeiro, uma das principais preocupações das autoridades foi com os famosos mijões. Sinceramente, depois de algumas cervejas, é bem difícil ter de aguentar na fila dos escassos banheiros químicos disponíveis em cada bloco.

Para manter a cidade limpa e sem o desagradável odor de urina, mais de 880 foliões foram presos durante o ato de aliviar a bexiga no carnaval carioca!!

Mas, algo que hoje é intolerável, foi extremamente comum durante séculos nas principais cidades do mundo. Nas cidades europeias, durante a Idade Média, as pessoas lançavam, além do lixo, o conteúdo de seus “pinicos” e toda a sorte de refugos nas ruas. Quando as pilhas ficavam altas, e o mau odor tornava-se insuportável, a sujeira era retirada com a utilização de pás e veículos de tração animal. Esta condição prevaleceu até o final do século XVIII, principalmente nas cidades menores.

Imagine a cena: Caminhar pela rua e tomar um banho de esgoto.

A situação só piorou com o passar dos séculos e com o aumento do numero de pessoas que passaram a viver nas cidades durante o período da revolução industrial tornou critica a situação sanitária, colocando em “cheque” a maneira como eram tratados os resíduos até então. A epidemia de cólera de 1831/32 despertou concretamente para os ingleses a preocupação com o saneamento das cidades, pois evidenciou que a doença era mais intensa em áreas urbanas carentes de saneamento efetivo, ou seja, em áreas mais poluídas por excrementos e lixo, além de mostrar que as doenças não se limitavam às classes mais baixas.

Os reformadores e os engenheiros hidráulicos (1842) propuseram, então, a reforma radical do sistema sanitário, separando rigorosamente a água potável da água servida: os esgotos abertos seriam substituídos por encanamentos subterrâneos, feitos de cerâmica durável.

Funcionários da prefeitura de Paris já haviam começado a projetar esgotos no começo do século XIX para proteger seus cidadãos de cólera. A solução indicada foi canalizar obrigatoriamente os efluentes domésticos e industriais para as galerias de águas pluviais existentes, originando, assim, o denominado Sistema Unitário de Esgotos, onde todas os esgotos e a água das chuvas eram reunidos em uma só canalização e lançados nos rios e lagos receptores.

Esgotos de Paris, um dos cenários do mais famoso romance de Vitor Hugo.

Esse sistema de esgotamento unitário, ou sistema combinado, é o sistema em que as águas residuárias (domésticas e industriais), águas de infiltração (água de subsolo que penetra no sistema através de tubulações e órgãos acessórios) e águas pluviais veiculam por um único canal.

Sistema de Esgotamento Unitário

A imagem de grandes galerias de esgotos em que as pessoas caminham dentro (tipicas do sistema de esgotamento unitário) marcaram a imaginação popular. A clássica passagem do romance “Os miseráveis”, de Vitor Hugo, em que Valjean resgata Marius da morte pelas galerias de esgoto de Paris é apenas um exemplo de como ficou marcante a visão do sistema de coleta de esgotos unitário.

Esse sistema de esgotamento unitário teve bom desempenho, em regiões frias e subtropicais, com baixo índice de pluviosidade, mas sua implementação em regiões tropicais, devido às elevadas precipitações pluviais, se mostrou inviável.

Buscando solucionar isso, foi montado um sistema em que uma rede de canais e tubulações coletava exclusivamente os esgotos e outra a água das chuvas. Esse método ficou conhecido como Sistema separador absoluto.

Sistema Separador Absoluto

No Brasil destacou-se na divulgação do novo sistema, Saturnino Brito (1864-1929), cujos estudos, trabalhos e sistemas reformados pelo mesmo, fizeram com que, a partir de 1912, o separador absoluto passasse a ser adotado obrigatoriamente no país.

Atualmente um dos principais problemas que cidades como o Rio de Janeiro enfrentam é que muitas construções lançam o esgoto na rede de águas pluviais, geralmente por preguiça de fazer um lançamento regular na rede de esgotos. O problema disso é que a água da rede de esgotos é tratada antes de ser lançada nos rios e/ou praias, mas a rede de drenagem não (já que na rede de drenagem não deveria ter esgotos).  Os detritos provenientes do esgoto lançado na rede de drenagem fica acumulado nessa até que uma grande chuva varra esses detritos para os rios e/ou praias. Geralmente é por isso que as praias da orla carioca ficam improprias para o banho depois de uma grande chuva…

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Mostrando 4 comentários
  • Rudah
    Responder

    seria bom referenciar essas imagens!!!

  • Ian Vieira
    Responder

    Muito bacana relembrar os conceitos da graduação em Engenharia Civil neste post esclarecedor.
    Uma abraço à equipe…
    Parabéns.

    • Matheus
      Responder

      Obrigado Ian! Continue lendo nossos posts! Abraço!

    • Aline Veról
      Responder

      Oi Ian, que bom que você gostou! Seja sempre bem-vindo ao nosso blog! Um abraço, Aline.

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