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No post de hoje vamos relembrar o conceito de Requalificação Fluvial. O conceito de Requalificação ou Restauração Fluvial como uma nova visão sobre os rios, vem ganhando espaço como uma nova possibilidade de intervenção para o controle de inundações, englobando aspectos hidrológicos, hidráulicos, morfológicos, de qualidade da água e ecossistêmicos.

Mas afinal, o que vem a ser a requalificação?

Requalificação Fluvial – Uma atividade multidiciplinar (“Multidisciplinary Landscape Assessment” by CIFOR is licensed under CC BY-NC-ND 2.0)

Segundo o Centro Italiano de Requalificação Fluvial (CIRF), é definido como o “conjunto integrado e sinérgico de ações e técnicas, de tipo muito variado (do jurídico-administrativo-financeiro até o estrutural), que permite que tanto o curso d’água quanto o seu território mais estreitamente conectado (sistema fluvial) volte a possuir um estado mais natural possível, capaz de desempenhar suas características funcionais ecossistêmicas (geomorfológicas, físico-químicas e biológicas) e seja dotado de maior valor ambiental, procurando satisfazer até mesmo os objetivos socioeconômicos”.

Profundo, né!? Mas, resumindo, a requalificação busca melhorar as características do rio, tentando reverter todas as perdas de oportunidade do uso da água geradas por consecutivas intervenções humanas, seja propositalmente, como pontes e retificações, seja indiretamente, pelo impacto da urbanização não planejada.

Exemplo de Restauração Fluvial Rural (“St. Lawrence River Restoration” by NOAA’s National Ocean Service is licensed under CC BY 2.0)

Já existem inúmeras experiências de requalificação em rios localizados em ambientes mais rurais, onde ainda há espaço para esse tipo de abordagem. Apesar de ser muito difícil transferir os resultados dessas aplicações para ambientes altamente urbanizados, onde as superfícies são mais impermeáveis e a bacia apresenta profundas alterações em suas características físicas, essa abordagem abre uma nova possibilidade de se pensar a posição dos rios na paisagem urbana, procurando tratar a questão fluvial sob uma ótica multidisciplinar, buscando uma maior harmonia entre o ambiente natural e o construído.

Exemplo de Restauração Fluvial Rural (“St. Lawrence River Restoration” by NOAA’s National Ocean Service is licensed under CC BY 2.0)

A requalificação fluvial pode se tornar o agente principal de uma série de intervenções na cidade, atingindo diferentes objetivos na solução dos problemas que enfrentamos em nossas cidades, como risco de inundações, escassez de água, poluição hídrica, erosão e deposição de sedimentos, degradação ambiental e urbana, etc.

Exemplo de restauração Fluvial Rural (“Kissimmee River Restoration Project Progress” by SFWMD is licensed under CC BY-ND 2.0)

É realmente difícil atuar em ambientes muito urbanos utilizando os conceitos de requalificação fluvial em toda sua abrangência, sendo de extrema importância para a cidade que o entorno do rio seja protegido contra inundações, o que na maioria dos casos requer intervenções modificadoras do curso natural. Assim, os conceitos dessa nova abordagem devem ser adaptados a essa realidade, aliando a preservação do ambiente natural ao desenvolvimento da cidade. É nesse contexto que se enquadra um grande projeto internacional de pesquisa, intitulado SERELAREFA, uma parceria entre a União Europeia e a América Latina, que tem como objetivo promover a recuperação dos ecossistemas fluviais através de uma rede latino-americana, constituída por um grupo de cinco países (Itália, Espanha, México, Chile e Brasil), no qual a AquaFluxus é parceira, junto com o Laboratório de Hidráulica Computacional da COPPE, coordenado pelo Professor Marcelo Miguez.

Exemplo de Restauração Fluvial Urbana (“Cheonggyecheon River Restoration Project” by Inhabitat is licensed under CC BY-NC-ND 2.0)

Pode parecer improvável a aplicabilidade dessas técnicas em grandes metrópoles como Rio de Janeiro ou São Paulo, mas é importante lembrar que grandes metrópoles são exceções e que o Brasil é cheio de médias e pequenas cidades que estão crescendo agora e que, portanto, ainda temos a chance de não repetir nelas os mesmos erros cometidos nas metrópoles.

Se quiserem mais informações, podem visitar os seguintes sites:

Centro Italiano per la Riqualificazione Fluviale -CIRF

European Centre for River Restoration – ECRR

Centro Ibérico de Restauración Fluvial – CIREF

Agradecemos especialmente à doutoranda Aline Veról, que contribuiu bastante para o nosso post e está desenvolvendo uma pesquisa sobre o tema na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em uma tentativa de trazer para o Brasil os avanços da requalificação fluvial, testando e adaptando seus conceitos para a nossa realidade!

Valeu Aline! Boa sorte!!

 

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Mostrando 8 comentários
  • José Luis Orlandeli
    Responder

    Esse tema é muito interessante e me atrai. Sou engenheiro agrônomo e já tive alguma experiência com matas ciliares. Certa vêz quando concluí um curso de Gestão Ambiental fiz um TCC relacionado com margem de represas e numa pós graduação na mesma área fiz uma monografia relacionada a um curso de água. Gostaria de trabalhar nesse sentido. Se alguém puder me indicar uma oportunidade agradeceria.

  • Aline Veról
    Responder

    Oi pessoal, excelente forma de divulgar boas ideias! Parabéns pelo site, pelos posts, pelo trabalho sério que vocês vêm desenvolvendo e muitíssimo obrigada pelo agradecimento. Eu é que devo agradecê-los pela divulgação do tema. Parabéns mais uma vez!

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Agradecemos muito o comentário Aline! A ideia é exatamente essa: divulgar ideias legais! Sempre que quiser opinar, fique a vontade! Pode sugerir novos temas e projetos legais que estão sendo desenvolvidos…

      Grande beijo…

  • Caroline Pitzer
    Responder

    Me interesso muito por este assunto! Ele é super atual e os exemplos de requalificação têm mostrado resultados excelentes. Vocês estão de parabéns!! Ah, adorei a primeira imagem…muito boa!

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Valeu Carol! É bom saber que cada vez mais pessoas se interessam por soluções mais ambientalmente “amigáveis”. Vamos torcer para que essa tendência continue e os projetos de engenharia sustentáveis tornem-se uma prática comum em nossas vidas…

      Beijos…

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