em Políticas públicas, Saneamento

Em muitos de nossos textos, discutimos sobre a gestão de riscos de inundações, como uma melhor abordagem para o planejamento urbano, visando a redução dos impactos e prejuízos que ocorrem durante eventos de grandes enchentes. Atualmente, o gerenciamento de risco busca intensificar a resiliência do sistema urbano, deixando de lado a simples tentativa de controlar as inundações.

Quando aplicada a um sistema de infraestrutura particular, a resiliência pode ser entendida como a habilidade desse sistema em continuar provendo seus serviços essenciais quando ameaçada por um evento incomum, assim como sua habilidade em retornar para sua capacidade de operação normal após a ocorrência do evento. Como os fenômenos naturais possuem uma variabilidade temporal, a resiliência pode ser relacionada também com a capacidade de um sistema de se adaptar às possíveis mudanças futuras do ambiente, continuando a prover os serviços para que foi originalmente projetado.

Para apoiar decisões sobre possíveis investimentos em projetos de redução de risco de inundações, podem ser usadas metodologias de aplicação de índices, de forma a possibilitar uma avaliação mais objetiva, considerando, porém, diversos critérios. Pensando nisso, o grupo de pesquisa do Laboratório de Hidráulica Computacional, liderado pelo professor Marcelo Miguez, vem trabalhando há algum tempo na elaboração de um Índice de Resiliência às Inundações Urbanas, já com uma primeira proposta publicada e apresentada no XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, resultado do projeto de iniciação científica da aluna de arquitetura Isadora Tebaldi. Posteriormente, o trabalho foi estendido em uma parceria com as estudantes de intercâmbio Louise Bertilsson e Karin Wiklund, o qual foi submetido para publicação na revista científica Journal of Hydrology.

Leia o resumo do trabalho publicado no SBRH:

O conceito de resiliência urbana consiste na habilidade de uma cidade de resistir e/ou se recuperar de acontecimentos não planejados ou associados a desastres naturais. A construção de cidades mais resilientes a inundações, objetivo deste trabalho, pode ser feita por técnicas que racionalizam a relação água X edificação X espaço urbano. Para subsidiar o planejamento e projeto de soluções de drenagem urbana, este trabalho apresenta o desenvolvimento inicial do Índice de Resiliência (IRES). A metodologia proposta parte da definição de risco, combinando o perigo, associado à probabilidade de ocorrência da inundação, com a vulnerabilidade, associada ao sistema econômico. A vulnerabilidade é dividida em: exposição, susceptibilidade e valor exposto. A resiliência, por sua vez, atua no sentido inverso da materialização do risco. O IRES conjuga quatro subíndices: inundação, exposição, susceptibilidade e capacidade de reposição de perdas. O índice foi aplicado à bacia do Rio Joana, sendo simuladas duas situações: atual e com projeto baseado no conceito de drenagem sustentável. Como resultado, obtiveram-se mapas de resiliência para a região. O projeto foi capaz de aumentar a resiliência de forma significativa na bacia do rio Joana, que teve o valor médio do IRES aumentado de 66% para 83%.

Com essa configuração, o IRES é composto pelas seguintes parcelas:

Subíndice Valor Relativo (VR): O subíndice VR relaciona indicadores relativos a características da inundação e os prejuízos potenciais resultantes para a população atingida. É construído de forma a representar uma parcela socioeconômica no índice, equalizando as perdas potenciais em relação à faixa de renda da população.

Subíndice Perigo (P): O subíndice P inclui indicadores também relativos às características de inundação e se refere ao alagamento de uma determinada área, relacionando a altura da lâmina d’água resultante de um evento de cheia com uma altura referencial de lâmina d’água, assumida como representativa de um alagamento crítico.

Subíndice Exposição (E): O subíndice E é composto por indicadores relativos à exposição da população aos eventos de inundações. Representa a população potencialmente exposta a um evento de inundação de uma determinada área e é representado pela densidade de domicílios.

Subíndice Susceptibilidade (S): O subíndice S relaciona indicadores relativos às edificações que estão diretamente susceptíveis aos eventos de cheia, ou seja, casas e pavimentos térreos de prédios.

A aplicação do IRES à bacia do rio Joana, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, mostrou um excelente potencial para avaliação das áreas mais sensíveis às inundações, assim como também permitiu a análise espacializada dos impactos positivos de um conjunto de intervenções na rede de drenagem da bacia. Os mapas abaixo mostram os resultados da aplicação do IRES nesse estudo.

ires

Uma aplicação interessante do IRES é para comparar diferentes conjuntos de intervenções. Como o índice é espacializado na bacia, o resultado indicará quais regiões são mais sensíveis e quais apresentariam mais vantagens após implementação das soluções propostas. Com isso, fica mais fácil observar quais intervenções terão impactos mais positivos.

Atualmente, o IRES está em processo de revisão, para ser aplicado a toda bacia do Canal do Mangue, avaliando diferentes concepções de projetos de controle de inundações. Em breve será publicado e poderemos apresentá-lo aqui também.

Um abraço.

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